sexta-feira, 10 de junho de 2011

Política na Sala de Aula: mistura perigosa?

Você acorda cedo. Liga a televisão e, enquanto toma o café da manhã, espera pelas primeiras notícias do dia através dos telejornais. Entre uma matéria e outra, desde curiosidades às informações sobre o rumo das personagens da novela do horário nobre, você se depara com um novo escândalo político. Uma rotina diária para os brasileiros, que infelizmente parecem perder sua capacidade de se admirar diante da desonestidade.
As notícias sobre “mensalões”, desvios de verbas públicas (entre elas a merenda escolar), má administração do dinheiro público em diversas escalas fazem com que seja cada vez mais comum encontrarmos posições do tipo: “política? Eu nem me meto”, “político é tudo igual”, “nem gosto de política”, “política não se discute”, entre outras. Infelizmente esse tem sido o posicionamento de muitas pessoas que, com orgulho, acreditam estarem agindo com bastante eloqüência. Mas será este o comportamento ideal em meio a tal situação? Para um dos maiores educadores brasileiros não.
Paulo Freire

Nascido em Pernambuco, Paulo Freire foi responsável por um método capaz de alfabetizar trezentos trabalhadores rurais em quarenta horas. Experiência iniciada por ele em Angicos- RN e que o tornou famoso a ponto de ser convidado, durante o governo João Goulart, a implantar um programa nacional de alfabetização de adultos. Convite que, posteriormente, também lhe rendeu experiências, semelhantes à de Angicos- RN, em países latinos e norte-americanos, africanos e europeus. Seu sistema de alfabetização foi baseado no ensino da leitura e escrita das palavras presentes na vida dos trabalhadores, portanto utilizadas cotidianamente por estes. E o sucesso da experiência em Angicos deveu-se a uma proposta que aproximava a educação à vida dos alunos, portanto, capacitava-os a melhor entender a própria realidade e as próprias práticas a que estavam habituados.  
Com Paulo Freire aprendemos que a educação é uma atividade política, pois só é efetivada através do educador que discute, junto ao aluno, as informações e acontecimentos que possuem influencia direta em suas vidas, seja no âmbito federal, estadual, municipal ou mesmo comunitário.
Se a educação deve primar pela formação de cidadãos críticos, capazes de se posicionar sobre os mais diversos assuntos, é necessário que este “modelo” de cidadão também seja refletido na imagem do professor.
Portanto, existe uma pergunta que deve sempre ser feita pelo educador: queremos formar apenas profissionais qualificados para o mercado de trabalho? Ou podemos adicionar a esse aluno a possibilidade de melhor compreender a sua própria realidade, capacitá-lo para melhor discuti-la politicamente e transformá-la?  
Se quisermos uma educação mais voltada para a formação do ser humano, não tenhamos medo de expor nossos posicionamentos em sala de aula, pois se um assunto tão determinante em nossas vidas como a política não puder ser debatida e analisada nas escolas, onde mais ela poderá ser abordada?! Será que o assunto deve se restringir a abordagem da classe política? Se assim fosse, seria uma situação bastante conveniente para esta.
Mais fica o alerta! Que este posicionamento seja livre, e de fato crítico e problematizador, voltado ao interesse e necessidades coletivas, e não influenciado pelo oportunismo dos que se beneficiam (ou buscam se beneficiar) do assistencialismo e favorecimento pessoal. Aos que tendem a colocar os interesses pessoais acima dos coletivos, a discussão política torna-se uma retórica vazia e sem nenhum ensinamento.
Gildevan Holanda.

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