O Governo do Estado nega qualquer aumento salarial apontando que os gastos com servidores já se encontraria nos limites estabelecidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Para tomar a iniciativa política, nesta semana, o Governo divulgou dados de uma auditoria sobre os "super-salários" de alguns servidores públicos. Mais do que arrefecer os ânimos, a manobra foi como jogar gasolina na fogueira. Acirrou mais ainda a revolta dos que trabalham de verdade no serviço público. Uma das revelações da auditoria é a de que o merecedor do maior salário no Rio Grande do Norte é um auditor fiscal aposentado que recebe inacreditáveis R$ 62.916,00 por mês.
Para alcançar esse total, há um complemento que é uma amostra do cinismo com que se constrói coletivamente a destruição dos bens públicos no Brasil: nada menos que R$ 19.468,00 desse super-salário resultam da incorporação de uma tal "gratificação prêmio produtividade inativo". Nem o mais corrosivo dos humoristas pensaria em um título melhor para um ataque aos cofres públicos. O holerite do auditor é ainda vitaminado por um "adicional por tempo de serviço inativo" de R$ 6.180,00. A mensagem não poderia ser mais clara: no Rio Grande do Norte, a inatividade de um auditor fiscal vale mais do que a atividade de três professores ou dois médicos.
Na edição deste sábado do Novo Jornal, mais um dado da auditoria: um vigia, funcionário da Fundac, tem um salário mensal de R$ 21.000,69. Como a Fundac supervisiona os CEDUCs (as "febems" daqui), o Rio Grande do Norte emite outra mensagem exemplar: quem monitora os infratores deve receber proventos vinte vezes maior do que aqueles que tratam de evitar que, através da educação, que jovens cheguem em uma dessas unidades.
O ataque dos gafanhotos ao erário público destrói a esperança de jovens e adolescentes pobres e alimenta as estatísticas da morte no estado. Nos primeiros cinco meses deste ano, em Mossoró, uma cidade de 280 mil habitantes, contabilizou-se nada menos que 100 homicídios. 80% dessas mortes eram de jovens. A maioria delas poderia ser evitada, caso o policiamento da cidade não tivesse sido atingido brutalmente pela suspensão do aluguel de carros. Medida tomada em nome da contenção de gastos, diga-se de passagem.
O ataque dos gafanhotos só é possível porque há quem o alimente em algumas esferas do Estado. Descoberta a praga, o Ministério Público Estadual prometeu uma investigação. Não se poderia esperar outra medida. Afinal de contas, um promotor público estadual, no Rio Grande do Norte, recebe, em média, um salário vinte vezes maior do que o de um professor. Entretanto, há quem duvide sobre o êxito dessa investigação. Não sem razão, pois, desentocar os atores que, por trás da cena, criaram e deram feições legais aos "super-salários" não é tarefa das mais fáceis.
Edmilson Lopes Júnior. Professor de sociologia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Fonte: email enviado pelo professor José Rômulo Arnaud Amâncio- Dirigente do Sinte
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