segunda-feira, 13 de junho de 2011

Afinal, O Que é ter Vocação Para Ser Professor?



Há alguns dias, tive a idéia de escrever algo sobre vocação profissional. Queria desenvolver o texto fazendo uma reflexão sobre a forma como o conceito tem sido compreendido no campo da educação. Lembrei do caso de um professor de matemática, que foi apresentado há algumas semanas no Globo Repórter (não lembro exatamente a data).

Tratava-se de um programa especial sobre stress. E o professor era o personagem que trabalhava várias horas por dia, sem descanso, em diferentes escolas. Andava de ônibus (pegava vários), pois não tinha o suficiente para a compra de um carro. Às vezes chegava atrasado para trabalhar devido à chuva, que o fazia se abrigar debaixo de algum teto. Mesmo assim, o professor estava sempre feliz e sorridente.

Acredito que esta situação nos faz lembrar casos semelhantes, quem sabe até de professores por quem passamos. Casos assim geralmente nos fazem pensar: “pra ser professor tem que ter vocação mesmo!”. Pelo menos essa é a consideração mais presente na crença popular. Mas existe algo a se pensar nisso tudo.

Se para toda profissão a vocação é medida de acordo com a capacidade de produção, de domínio e alcance dos objetivos traçados, por que na docência tende a acontecer de forma diferente? Porque o imaginário popular não tem compreendido a vocação para a docência como a capacidade de domínio e de gerar aprendizagem em sala de aula?

Infelizmente, a imagem de “professor” que tem forma no imaginário da população se assemelha a do professor de matemática, apresentado pelo programa. Essa representação do docente como profissional que trabalha duro, é pouco respeitado pelos poderes públicos, pouco remunerado, não é errônea. É triste, mais essa é a realidade para muitos profissionais da educação.

O problema é enxergar a vocação profissional como a disposição de alguém em se adaptar a tal situação: péssimas condições de trabalho, salário irrisório e tudo o mais que já é bem conhecido por todos.

A educação tem sido compreendida como um trabalho missionário, onde aquele que “nasce prá isso” é quem se disponibiliza para o sacrifício, quem aceita abrir mão de muita coisa por causa de uma “missão maior”: salvar o país através da educação.

Apesar de óbvio, acreditem! Nenhum professor, que se encontre nessa situação, está feliz. Ou a greve da educação no RN é consequência da satisfação dos profissionais?

Essa “vocação”, que tem sido transmitida pelos meios de comunicação e acreditada por muitos, tenta relacionar o professor à imagem do profissional conformado, passivo, sem forças para mudar sua própria condição. Como se o profissional da educação já estivesse conformado com a sua condição.

Como acontece com toda categoria, a vocação docente está no sucesso de trabalho, assim como na vontade e capacidade de lutar por condições melhores. Por isso: FORÇA PROFESSORES GREVISTAS DO RN!!

Gildevan Holanda!

2 comentários:

Raquel disse...

Muito bem, professores. Vocês são fundamentais para o progreeso do país. Greve enquanto não houver a justa valorização.

Isaac Medeiros disse...

Não sei se o imaginário popular entende muito bem o termo vocação. Quando me refiro a esse termo sempre lembro de vocação política. Um pensador alemão [Weber] refletia: ora, existem certas habilidades inerentes ao próprio sujeito que parecem surgir por intuição; aquelas exigidas por determinada profissão parecem ser exclusivas de algumas almas benditas. Seriam essas às bem sucedidas nessas respectivas profissões? Não necessariamente! Um amálgama de possibilidades inclusive de interesses podem atuar contra o indivíduo nesse seu empreendimento. Também não vejo relação entre vocação e situação concreta de trabalho. A tão falada satisfação pessoal é muito mais uma questão espiritual do que pura relação com o trabalho. Além do mais é importante não ter uma postura messiânica, seja qual for o funcionário público. Acho até que aqueles que o fazem é por ingenuidade. E na profissão professor onde uma tal LDB de 96 é opressora vocação é menos imponderáveis do que competências e habilidades.