terça-feira, 5 de julho de 2011

Espaço do correspondente:

De trás pra frente pode ser perigoso:

Estamos vivendo uma era de transformações, o vestibular, antigo vilão, tão criticado, está nos dando adeus, e aos poucos sendo substituído pelo ENEM. Mas, afinal é só isso? Vamos fazer a troca e continuar com a prática de sempre? Como é que vamos alcançar efetivamente uma melhor educação se o processo está começando pelo lado contrário?

Não acredito numa reforma ou melhoria de uma educação que desconsidera as bases e esquece a preocupação com o início. De que maneira se pode evoluir se só mexermos nos resultados enquanto as “continhas” continuam sendo armadas erradas?

Atualmente escolas públicas e principalmente particulares de educação infantil e ensino fundamental, trabalham na perspectiva do vestibular, desvalorizando o contato com o concreto e a inteiração com o meio, receio que estejamos mais uma vez errando, maquiando apenas o fim de um processo mentiroso, olhos abertos pra o início da partida, esse jogo exige sequência.

Não podemos continuar ensinando nossas crianças pautados no distante, ouçamos a voz de cada um dos seres que ajudamos a formar, façamos nosso papel, assumamos nossa responsabilidade, mas como? Sozinhos? Nãooooooooo! Exijamos mais de quem rege a educação brasileira, como professores, mas acima de tudo como cidadãos, exijamos também dos pais, esclareçamos que a escola não é um depósito de crianças!

A educação não é feita de papel e nem só no papel, resultados concretos exigem contatos com o concreto. Tenho certeza plena das minhas palavras quando nos olhos dos meus alunos percebo o brilho e o orgulho da descoberta, quando os escuto multiplicar os temas abordados em sala, à sua maneira, com suas palavras, mas felizes pela certeza de que esse conhecimento não é alheio a eles.

Se queremos extinguir o mecanicismo do vestibular, precisamos substituir nas nossas bases esses mecanicismo, acabar de vez com o aprender por aprender, tornando o conhecimento algo real e palpável, se não for assim, fica difícil supor um final diferente!

Andréa Furtado

Professora.

Pedagoga.

Juazeiro do Norte- CE

6 comentários:

Isaac Medeiros disse...

A Andréa se refere ao vestibular como processo avaliativo e é preciso antes de "extingui-lo" analisar seus dados. É fato que muitos e muitos cursos de diferentes Universidades sofrem com o despreparo de seus alunos. Raciocínio, leitura e escrita ainda é longa caminhada dentro do processo de educação de nossas crianças. O processo de ensino/aprendizagem não admite um aprender por aprender, antes exige um aprender a aprender, como bem nos ensinou nossa querida escrita brasileira Cecília.

Hugo Carvalho disse...

Concordo com ambos. O sistema educacional como um todo sofre com problemas crônicos, as crianças saem do ensino básico sem as habilidades básicas, ler, escrever, somar, dividir, multiplicar, subtrair, permanecem com elas no ensino médio, e chegam atá o ensino superior com essas dificuldades. Enquanto professor de ensino médio consigo perceber isso, um número considerável de alunos chegam lá sem nem se quer conseguir escrever o próprio nome, como reflexo de uma herança dos ciclos anteriores. Então, como bem ressaltou Andréa, é importante, antes que pensar esse modelo específico de educação é necessário rever alguns problemas estruturais, enfim, "de trás pra frente não dá".

Ronaldo Silva disse...

Realmente torna-se necessário rever as politicas educacionais do nosso país, pois atualmente tais politicas estão voltadas para dados estatísticos, e não para o que realmente interessa, a educação dos cidadãos.

Isaac Medeiros disse...

Eu acredito na Estatística! Vejamos um exemplo. Quantas escolas públicas do Rio Grande do Norte, pública e particular, faz um excelente trabalho para aprovação no vestibular [UFRN, UERN]? Pesquisas nesse sentido poderiam mostrar quais os fatores determinantes para uma "educação bancária de qualidade". Mas, o que a “educação dos cidadãos” exige para uma tomada de atitude da juventude? De certo não será abrandar os egos diante de críticas sobre às políticas educacionais em vigor em nosso país. Elas existem aos montes! Descentralização e gestão democrática são fortes aliadas no CONTROLE delas. Porém, como está à administração? São os dados emitidos por essas ao MEC que possibilita atualmente algo parecido com um Sistema Educacional. Perigo é deixar esses dados serem escritos com caneta azul e preta nas Dired´s potiguares onde paternalismo, troca de favores ilegais, "corrupção institucionalizada", amadorismo, despreparo e desorganização é governo tradicional. Se estamos falando em melhoria na qualidade da educação de "trás pra frente" é nossa solução! Pense em qualquer número. Agora ANOTE o número no papel para garantir que você não irá trocar de número. Agora, escute bem, EU POSSO adivinhar o número que você pensou [alguém mais?]. Passei uns vinte minutos com uma aluna tentando desconstruir essa favorável estatística. O engraçado é que ela aprendeu muito mais a ensinar matemática do que a ludibriar seu ouvinte. O resultado DEVE ser mexido e remexido para se saber menos sobre eficácias do que sobre origens das deficiências. As "continhas" podem ser armadas erradamente porque diante do problema o resultado sempre recusa poucos meios. Para solucionar os problemas estruturais é preciso estudar a estrutura. O curioso é que a Capes "patrocina" o maior número de pesquisadores do Brasil justamente em educação. Sabe o que é muito perigo, Andréa? Limitar o problema da qualidade da educação a própria educação. Não existe estrutura que esteja além da capacidade de formulação por um indivíduo em particular, os companheiros professores devem saber bem a força da ideia do primeiro "pedagogo" a escrever sobre isso. Esse perigo jamais será abrigo se (des)construído pela base. Meu ponto é onde existe formação por excelência nesse país, no movimento social ou nas escolas institucionalizadas?

Andréa disse...

Entendo perfeitamente seu ponto de vista Isaac, mas ainda acredito que isso é uma questão conjunta, não resolve nada pensar no fim do processo sem que antes tenhamos o direcionamento adequado no início,estaremos sempre maquiando resultados falsos, e como Hugo disse continuaremos a nos deparar com Adultos que mal conseguem escrever o próprio nome, defendo uma coerência entre aquilo que se ensina e aquilo que será cobrado no fim,não é isso que é proposto no ENEM, um conhecimento que possa ser aplicado rotineiramente, o ensinar a pensar?Tenho visto na minha cidade o corre corre das escolas particulares, geradoras de bons resultados no vestibular para modificar de trás pra frente os atuais resultados, e agora, o que fazer se o tipo de resultado exigido tem mudado? Se a avaliação final está diferente? E quando encarro tal realidade só consigo vislumbrar ainda mais catástrofes educacionais,falta de preocupação com a formação do cidadão, e isso pra mim é perigoso. Julgo realmente necessário voltarmos nossos olhares para as bases, os dados estatísticos tão valorizados, são obtidos através do despreparo de seres humanos, que diante da constatação dos erros educacionais vivenciados não tem a oportunidade de reviver nenhum ciclo e ficam presos nesses números,é necessário esses sacrifício pra que se comece a trabalhar essa estudar essa estrutura?

Ronaldo Silva disse...

Creio eu, que quando falamos em estatisticas, lembramos logo do IDEB (Índice de DEsenvolvimente da Educação Básica), agora vejamos do ponto em que segundo o MEC o IDEB Brasileiro tem "crescido", "aumentado", significativamente, mas basta pesquizar pelas escolas publicas estaduais e/ou municipais do Brasil pra encontrarmos jovens cursando o ensino médio sem que sequer estes saibam ler. Onde está a educação que não cuida destes problemas? Onde está o IDEB que não verifica estes (des)casos? Mas afinal "nós" (educadores, pesquisadores e todos os que se preocupam em lutar pela educação) vamos continuar olhando pras estatisticas e dizer que a educação esta melhorando? Espero que possamos, pelo menos tentar, retirar a venda dos olhos de quem acredita em certas estatisticas que passam no Jornal da Rede Globo, e outras emissoras.